Montando Árvores
Uma reflexão sobre resoluções, liderança e o que significa construir um futuro com propósito.
“Papai, por que a gente monta árvore de Natal para o Natal?”, perguntou minha filha Isabela, de quatro anos, enquanto montávamos nossa árvore em casa. Fiquei pensando: como tantas outras tradições, isso virou parte do que fazemos automaticamente, sem muito questionamento. Mas para uma criança, tudo isso ainda é uma descoberta fascinante.
Tradições fazem parte do que nos conecta, sejam momentos especiais como montar a árvore de Natal ou comportamentos coletivos como criar resoluções de ano novo. Ambas são maneiras de marcar o tempo e criar significado, mesmo que nem sempre paremos para refletir sobre o porquê.
Apesar de ser um marco importante do ponto de vista social, já que todos paramos para assistir a especial do Roberto Carlos juntos, a virada de um ano para outro não tem nenhuma característica especial que nos ajude a concluir novos objetivos.
Poderíamos criar resoluções em qualquer momento – no nosso aniversário, no início de um novo mês ou mesmo numa segunda-feira comum. Mas o que torna o ano novo especial é o senso de unidade. É o único momento em que milhões de pessoas, ao mesmo tempo, param para refletir sobre como podem melhorar e crescer.
Mesmo depois de filosofar um pouco sobre porque não fazia resoluções de aniversário, continuei a tradição e acabei fazendo as minhas para 2024 na virada do ano. Foi um período turbulento, com objetivos criados com muito medo em conjunto.
Ano passado passei por uma experiência traumática na carreira (que fica para outra newsletter), onde percebi que o que entendia como sintomas de uma empresa doente, muita gente do mercado de trabalho via (e ainda vê) como sinais de uma empresa saudável - e isso era tortura para mim. Foi então que decidi criar minha resolução de ano novo. Dar vida a uma empresa que leva consigo meus ideais para o trabalho.
Muito da minha carreira (talvez ela inteira) foi feita com trabalho em startups. Mesmo quando trabalhei em empresas maiores, era em unidades que carregavam o “DNA Startupeiro”. Minha experiência começou em desenvolvimento, focado em criar softwares para resolver muitos tipos de problemas diferentes (eu inclusive escrevi um pouco sobre esse começo). Esse foi o começo do que depois me faria uma pessoa mais generalista, que consegue navegar tranquilamente entre diversas áreas, com mais profundidade em uma ou duas.
Depois de um tempo, tive a oportunidade de liderar pessoas. Para mim, uma pessoa que se define com um pensamento científico, a habilidade de lidar com gente é algo que acho extremamente desafiadora. Isso porque é muito complexo você identificar padrões nesse tipo de gestão. Pessoas são diferentes, suas motivações e histórias são muito únicas. Depois de muito tempo entendi que cada pessoa tem que ser individualizada e tratada de acordo com seu contexto. Não é fácil! Uma das coisas que mais me orgulho é de sempre ter tido equipes com baixa rotatividade. Quem trabalhava comigo gostava, tinha evoluções significativas e normalmente conseguia oportunidades muito melhores - o que me deixava muito orgulhoso.
Essa minha caminhada foi cheia de muitos (muitos mesmo) debates e discussões com lideranças executivas. Apesar de ter que aprender muito sobre estratégia e estudar conceitos fundamentais sobre negócios, as discussões acabavam sendo sobre cultura e pessoas. Eu tentava proteger as pessoas a qualquer custo. Era um combinado entre eu e minhas equipes: enquanto eles davam o melhor deles, eu segurava toda a pressão e não deixava o que escutava de pior chegar até lá. Bom, na verdade eu deixava, mas já filtrado e com tudo sob controle. Eu criava uma realidade que funcionava para a equipe, independente de como era a empresa. Meu objetivo era criar um ambiente saudável de trabalho, para todos trabalharem bem e felizes. Não me entenda mal, não estou dizendo que todos os lugares foram horríveis e se não fosse meu foco nas pessoas tudo estava perdido. Eu tive a sorte de trabalhar em lugares onde a cultura era forte e as pessoas eram maravilhosas, também.
Mas a verdade é que trabalhar em uma empresa com os seus ideais só é possível quando for, de fato, o seu negócio. Eu não aguentava mais discutir, por exemplo, sobre a cultura do “comportamento de sócio”, evoluções acadêmicas, horas trabalhadas… Você quer que alguém tenha “comportamento de sócio”? Faça essa pessoa sócia da sua empresa! Quer que as pessoas saibam mais e evoluam em suas carreiras? Ajude e apoie o estudo, adaptando a rotina. Quer que todos trabalhem horas a mais sem motivo algum? Está no ramo errado!
Depois do episódio traumático e uma reflexão sobre tantas discussões nos últimos anos, entra minha resolução de ano novo: a Kickops. Mergulhar no empreendedorismo, de maneira responsável e humana, trazendo minha experiência em tecnologia e negócios.
Agora lutamos todos os dias por nossa cultura. A dividimos em quatro pilares principais, partindo de um axioma:
“Todas as pessoas da Kickops tem nossa confiança, porque sabemos o quanto são comprometidas”.
Para cada pilar, criamos uma frase que o resume:
Pessoas: Nenhum prazo está acima do bem estar da nossa equipe.
Liberdade: Trabalhamos de onde quisermos, quando quisermos.
Excelência: Para termos mais eficiência, buscamos sempre a excelência.
Resultado: Não medimos o trabalho por horas trabalhadas, mas sim por resultados atingidos.
Pode parecer estranho ou algo que só funcione em uma empresa pequena, como é o nosso caso. Para que esse tipo de cultura funcione, o axioma precisa ser satisfeito e a gestão precisa ser diferente. Comunicação precisa ser tudo, mesmo que assíncrona e todos estejamos trabalhando remotamente. Não pode existir microgerenciamento. A filosofia Ágil tem que estar no cerne da equipe.
O ano de 2024 ficará sempre na memória, porque foi quando colocamos tudo isso para funcionar. Com muito trabalho, muito suor e estes valores, conseguimos criar um corpo, cultura e atingimos resultados ótimos. Criamos novos softwares, novas soluções de produtos digitais, novas experiências de usuário, ajudamos com decisões em tecnologias e muito mais. E enquanto a empresa rodava, pude criar essa newsletter, dar aulas no curso de Ciência da Computação, ser monitor de um curso de programação em Stanford, recomeçar o mestrado e estar com a minha família em tantos momentos importantes do ano.
Não posso dizer muito sobre o futuro da Kickops, seria um exercício de futorologia barato e não quero te convencer que as planilhas dizem tudo sobre o que vai acontecer. Mas posso afirmar que este foi um ano surpreendente. Diversos desafios, mas muita cultura e respeito às pessoas. Mesmo que a empresa entre nas estatísticas e não continue por mais de cinco anos, cada ano podendo ter uma filosofia corporativa diferenciada é um ano importante de ser aproveitado.
Assim como minha filha vê a árvore de Natal com um olhar curioso, vejo a Kickops como uma chance de reinventar tradições corporativas. Trabalhos que nos fazem sacrificar vidas e ideais não deveriam ser tradição. Minha resolução para o próximo ano é simples: construir realidades melhores para quem trabalha comigo. E a sua? Que tal começar mudando o que está ao seu alcance? Sua equipe, comunicação, gestão, etc?
Uma das resoluções de 2025 para a Kickops é compartilhar nossa experiência sobre tecnologia, negócios e pessoas. Traremos workshops e experiências para ajudar esses dois mundos a serem mais conectados. Coloque seu email neste link para receber as novidades!