Minha intenção aqui é trazer meu ponto de vista sobre diversos assuntos envolvendo tecnologia, negócios e pessoas. Muitas vezes isso significa que eu vou escrever reflexões sobre algum assunto mais concreto, como já fiz sobre remote-first ou experiência. Mas não quero me limitar a apenas isso. Quero também compartilhar ideias sobre outros assuntos (quem sabe filosofia?), opiniões sobre notícias e atualidades e até sobre paixões pessoais. Uma delas é a educação. Meu objetivo profissional sempre foi ter uma empresa bem sucedida, onde eu pudesse colocar em prática a cultura que acredito, ao mesmo tempo em que dou aulas em uma universidade, preferencialmente de computação. Hoje peço licença para contar um pouco sobre minha história com a educação e comentar sobre o Code In Place, programa de Stanford que estou participando como professor voluntário.
Quando criança ou adolescente eu não sabia que depois de entrar na faculdade essa paixão ficaria tão forte. Durante meu período acadêmico eu ajudei muitos colegas e também ministrei algumas oficinas para alunos de períodos mais novos. Eu adorava poder pensar nos conteúdos e em como poderíamos ajudar as pessoas a entender mais e melhor sobre o fascinante mundo da computação. Um dos meus hobbies era criar ementas de possíveis cursos por diversão, até para poder verificar o meu conhecimento sobre determinado assunto. Depois de um tempo trabalhando no mercado como desenvolvedor de software, resolvi investir um tempo na criação de um canal no Youtube, chamado Yarquen (quem quiser saber sobre o nome, comenta que eu respondo! 😆). A ideia era levar computação criativa para as pessoas, me inspirando (um sinônimo de copiando) o Daniel Shiffman, do canal The Coding Train. Ele é um professor da NYU que ama programação e artes, com um poder pedagógico incrível - os vídeos dele são sensacionais. Além do canal ele também tem um livro, chamado The Nature of Code, onde observa o mundo real e descreve algoritmos para simular os comportamentos identificados. Infelizmente o meu canal não foi muito atualizado, porque para eu produzir um video de 15 minutos eu levava algumas horas, divididas em ideação, gravação e edição. Acabei atualizando pouco por lá, apesar de ter alguns vídeos interessantes, como quando eu uso o método de Monte Carlo para estimar o valor de pi. Desde a criação do canal eu acabei deixando a paixão de ensinar um pouco de lado, tentando levar todas as outras coisas para frente. Em uma certa época até ajudei a incrível Camila Achutti a criar o Mastertech, dei aulas de programação web para a primeira turma mas logo saí para focar no trabalho principal. Eu gostaria muito de ter continuado com ela naquele projeto, até porque não sabia quando teria outra oportunidade de estar inserido em algum projeto de educação de fato.
Foi em 2018 que comecei minha carreira de “professor profissional”, quando comecei a dar aulas de introdução a programação com Python na Let's Code (hoje Ada Tech). Um amigo estava fazendo o curso e eu dei uma carona pra ele até lá. Quando cheguei achei interessante e fui buscar se tinham vagas - quando menos percebi estava lá ensinando para a primeira turma. Foi uma experiência diferente e muito rica, porque o curso era dado em uma escola livre, não tinha nenhum tipo de pré-requisito. Tinham pessoas que atuavam nas mais diversas áreas, desde jornalismo até agronomia. Poder ajudá-los a trilhar o caminho da computação foi extremamente gratificante. Depois dessa experiência, tive mais dois caminhos dentro da educação. Durante minha passagem pelo Grupo Primo assumi como diretor de unidade de negócios da Staart, uma escola de tecnologia que queria também trazer o máximo de pessoas para o mundo da programação. Eu, a Thaíssa Candella (sigam no insta!) e uma equipe incrível fizemos um trabalho de dar orgulho, mas infelizmente o foco do Grupo era outro e nossa frente foi desligada. Mas meu caminho na educação também tinha tido uma curva diferente. O Senac, a mesma faculdade que cursei em 2007, estava contratando para Ciência da Computação. Um dos melhores professores que já tive assumiu a coordenação do curso e buscava ex-alunos para integrar o quadro de docentes. Foi então que comecei minha carreira como professor universitário, uma das coisas mais desafiadoras e maravilhosas que já fiz na vida. Muitas pessoas acham que não há muitos desafios na docência, mas a realidade é que engajar uma turma é um trabalho bastante complexo. Estamos o tempo inteiro estudando ferramentas e métodos úteis para nos ajudar a ter aquele momento de atenção e interação, fazendo o aluno entender e aprender a aprender. Em uma época onde livros não são mais tão atrativos assim, tudo parece mais complicado. Muitos alunos me perguntam como estudar mais alguns assuntos e quando eu pergunto qual livro está usando para estudar, a cara de surpresa vem com a frase “Livro, professor? Não tem um canal do Youtube que o Sr. possa me indicar?”. Esse é só mais um dos muitos desafios da educação.
Pensando nesses desafios, recentemente descobri que uma das melhores universidades do mundo criou um novo programa para ensinar programação para pessoas ao redor do mundo. A universidade de Stanford criou, em 2020, o programa Code In Place. O objetivo é disseminar conhecimento através do mundo em larga escala, usando uma estrutura um pouco diferente da tradicional. O formato tem uma veia tradicional: os alunos estarão dentro de uma plataforma de aprendizagem online, aprendendo os fundamentos da disciplina CS106A, que ensina introdução a programação lá em Stanford, através de videos e exercícios feitos pelos professores principais da universidade, que são co-criadores do projeto.
A diferença é que eles dividem os alunos (~ 10 mil) em seções, lideradas por professores voluntários, escolhidos através de um processo de seleção. A ideia é construir uma comunidade de aprendizado: os líderes de seção são pessoas de todos os tipos, desde alunos e professores até CEOs de empresas sólidas. Durante seis semanas, os grupos se encontram uma vez por semana e resolvem algum tipo de problema usando Python no próprio ambiente disponível para os alunos, com o professor como facilitador dessa comunidade. O objetivo é colocar o aluno como centro na aprendizagem. O professor não deve simplesmente dar uma aula, mas criar meios para que os alunos cheguem nas soluções sozinhos.
Em 2024 eles estão realizando a quarta edição do Code In Place. E nessa edição eu estou participando, como um Section Leader, um dos professores voluntários! ❤️. Nós temos um acesso diferente dentro da plataforma, com dicas e materiais de como darmos direcionamentos melhores para os alunos, como criarmos conexões reais com eles, como incentivar e engajar a comunidade, etc. Participei de uma “Live Practice Section”, onde encontrei com outros líderes de seção e treinamos um pouco a “aula” que vamos dar nessa semana - conversei com dois vietnamitas, um bem novo (acabou de se formar) e outro PhD em computação! Nem começou direito e já está sendo uma experiência extremamente rica. Depois que o curso finalizar eu com certeza voltarei com minha impressão de como foi mais essa aventura.
Pra não dizer que não trago nenhuma reflexão hoje, acho que podemos pensar sobre como esse projeto de Stanford pode ser impactante. Lecionar em larga escala pelo mundo todo não é nada fácil, mas eles estão criando métodos e estudando para incrementá-lo e fazer com que mais pessoas tenham acesso a um mundo que pode ser indispensável para muitos no futuro próximo. Você pode até não gostar do autor1, mas a frase “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, é um resumo perfeito sobre o papel da educação.
Até a próxima!
O autor é o Paulo Freire, segundo a internet.